O novo ano trouxe consigo novas ideias
que eu pretendo usar no blog (a primeira e voltar a postar, se é quem em
entendem). E entre tantas coisas que o tempo ocioso das férias me traz surgiu
uma ideia que eu particularmente achei que seria bem legal: uma coluna onde
entrevistarei escritores e que chamo de “Entrevistando” (simples assim).
Ainda que tenhamos este ou aquele
autor junto de nós a cada livro lido, sempre acho legal um maior contato com as
fantásticas pessoas que fazem nossa alegria com histórias contagiantes e por
que não angustiantes também? Mas não menos interessantes. No mais, funciona até
mesmo como uma divulgação do trabalho (nem um pouco fácil) destas pessoas que
resolveram soltar no papel o que se passa em suas cabeças.
Vou começar com o autor do
penúltimo livro lido em 2014, Peterson Silva, autor de “Controlados - A Aliança
dos Castelos Ocultos”. Preparem-se para uma entrevista um tanto diferente, mas muito
legal que me ajudou a complementar a leitura do livro.
Espero que gostem!
Lucas: Como
surgiu o desejo de escrever um livro?
Peterson: Ih, mas está parecendo um consultório de psicólogo... Vou
começar a falar da infância =P
Bem, não sei. Eu sempre gostei de livros, mas foi depois do primeiro
Harry Potter (o filme) que comecei a ler mais e mais e mais e... Não sei
exatamente como surgiu o desejo de contar histórias. Essa vou ficar devendo!
L: O que te
inspira a escrever?
P: Essa pergunta é dupla, não é? Por um lado, os desafios das pessoas,
seus dilemas, suas escolhas... As consequências dessas escolhas e como elas
lidam com elas... Acho essas coisas fascinantes, o tipo de material que inspira
histórias e do qual boas histórias são feitas. Realismo fantástico em geral é
uma boa inspiração, acho, e aqui entramos no outro lado da pergunta: elementos
"inspiradores" para a escrita. E, bem, nesse departamento sou bem
eclético. Gosto de andar pela casa pensando, às vezes gravando reflexões;
enquanto faço isso, brinco com um limão... Ou uma batata. Jogos como campo
minado, 2048, Tetris, tudo isso ajuda a "pôr as coisas no lugar".
Músicas também ajudam (algumas eu até posto nas redes sociais do livro, e umas
são bem surpreendentes!), mas de vez em quando elas começam a me atrapalhar -
ou eu acho que não encontrei ainda a música certa para aquilo que devo escrever
- e aí acolho o silêncio.
L: Existem
elementos da sua própria vida que inspiraram de alguma forma sua história?
P: Bem, algumas coisas, desde detalhes a coisas grandes. A sensação que
tenho debaixo d'água (não sei, e não gosto de mergulhar), com toda aquela
quantidade avassaladora de água ao redor da minha cabeça mexendo com os meus
sentidos, me ajuda a pensar no que Lamar sentia quando entrava em Neborum sem
gostar da experiência. Outras coisas, dilemas, relacionamentos, podem ter
alguma coisa a ver com algumas coisas nos livros... Acontece. Acho que todo
personagem tem necessariamente alguma coisa do autor; não tem como não ter. E acho
que todo mundo tem um pouquinho de tudo dentro de si.
L: O que costuma
ler? Suas leituras influenciam no modo como cria e escreve seus livros?
P: Certamente. Leio de tudo, mas principalmente duas coisas: literatura
(devoro tudo, embora creio que a balança penda mais pra algumas coisas) e
leitura técnica da área de Ciências Sociais, que é o que estudo. E tudo
influencia, certamente. Tolkiens influencia. Rowling influencia. Coben
influencia. Saramago influencia. Até Douglas Adams influencia; em alguns momentos
percebo minhas estruturas de frases tentando captar um pouco da mágica que ele
fazia com suas linhas. Estou doido para ver como Cornwell vai me influenciar
(ainda não o li). E também Foucault influencia. Bourdieu influencia. Nietzsche
influencia (embora faz um certo tempo que não o leio).
L: Como surgiu a
ideia para seu livro? Já possuía a ideia completa ou o enredo foi surgindo à
medida que escrevia?
P: O enredo surge ainda hoje, mas o fio que amarra tudo do início até o
fim, com arcos narrativos gerais bem sólidos, já chegou pronto desde o
princípio; tenho tudo anotado até hoje numa pasta da qual não posso prescindir
ao escrever. A ideia surgiu de cheiro de pão em supermercado: li um dia sobre
supermercados nos Estados Unidos em que cheiro de pão quente era espalhado
pelos corredores mesmo quando não havia pão fresco, para influenciar as pessoas
a comer (e comprar) pão. É uma influência simples sobre os sentimentos e,
ultimamente, as ações das pessoas, mas é invisível a quem a sofre. E assim é o
caso de muitas influências, que geram dinâmicas de poder, que em nossa
sociedade global desaguam em desigualdades. Acho tudo isso interessante e assim
surgiu a ideia de tratar isso simbolicamente no universo da série Controlados.
L: Quanto tempo
demorou para finalizar o livro?
P: O primeiro livro, mais ou menos um ano de escrita propriamente
dita... Mas essa é sempre uma estimativa complicada; na realidade não lembro
exatamente porque, bem, como incluir o período antes de começar a escrever o
livro em si? Levei tempo para desenvolver toda a história de Heelum... Desenhar
o mapa... Pensar a história toda... E o período depois? Revisão... Mais
revisão... Toda a infra-estrutura do site... É um bom tempo.
L: O que fazer
diante do bloqueio criativo?
P: Andar, comer, pensar; fazer outra coisa. Claro que nisso me refiro ao
"nó", o momento dentro de um destino já claro de uma história em que
surge uma dificuldade e é preciso achar uma solução não-óbvia... Acho que nunca
experimentei algo ainda como uma ausência completa de direção ou ideias. Por um
lado me sinto tentado a dizer que acho a ideia "aterradora", mas...
Sinceramente? É ainda muito distante da minha realidade. Meu problema é o exato
oposto. Queria tempo para escrever AGORA pelo menos outros quatro livros para
os quais já tenho todas as ideias na minha cabeça. Sem falar dos outros quatro
livros - os quatro volumes que vão dar continuidade a "Aliança".
L: Quanto tira
por dia para se dedicar exclusivamente à escrita?
P: Varia muito. Às vezes (raro) consigo dedicar um dia inteiro... E tem
dias que não consigo, por outras pressões e compromissos, sequer olhar para uma
linha de texto... Não sei como fazer a conta, e ainda tem os textos produzidos
para o Universo Estendido. Enfim, varia muito. Mas a madrugada é o melhor
horário para escrever. Posso estar "andando em círculos" num capítulo
teoricamente simples desde as nove da noite; quando chega uma da manhã a coisa
vai para frente com uma velocidade incrível.
L: Como foi o
processo desde a criação até a publicação do livro?
P: Longo e cansativo. Você sempre tem a impressão de que vai esquecer
alguma coisa, ou de que não ficou tão bom. Mas você acaba se contentando, tudo
dá certo, e o que não fica tão bom dá para consertar mais tarde. O que fica de
lição é a calma, a experiência, o planejamento.
L: Quando
decidiu publicar o livro, buscou algum profissional para editar e finalizar o
material ou fez tudo sozinho?
P: Fiz tudo sozinho. Esses trabalhos são caros - e devem ser mesmo, como
todo trabalho que deve ser valorizado pelo serviço especializado que é, quando
de qualidade. Seria impossível para mim pagar por tudo, e portanto para
compensar aprendi uma série de coisas para poder preparar tudo eu mesmo. Já
tinha algum conhecimento de base: já trabalhava antes com LaTeX e Wordpress,
por exemplo, mas o livro me levou a aprender ainda mais dessas duas ferramentas
(e de boas práticas quanto a estética de editoração e de sites) e de muitas
outras coisas - hoje eu sei, por exemplo, criar "à mão" (sem nenhuma
ferramenta automática) um arquivo epub. Enfim... O único profissional que
busquei porque realmente seria algo inatingível para mim foi o ilustrador Lucas
Machado, que tem feito um trabalho sensacional e é sempre muito elogiado quanto
à capa do Vol. I.
L: Por que
decidiu publicar seu livro de forma independente? Chegou a enviar manuscritos a
editoras? Se sim, obteve resposta?
P: Ah, sim, editoras!
Havia uma
banda que eu gostava muito em Florianópolis. Chamava-se Aerocirco. Ela é
absolutamente demais, até hoje uma de minhas favoritas. Recomendo que a busquem
no Youtube. Fui a diversos shows deles aqui em Floripa - e procurei
valorizá-los porque muitas bandas de que gosto, mesmo quando vêm ao Brasil,
jamais vêm à Floripa. Teve um final de semana em que fui a dois shows deles, só
porque eu podia (e era barato, e não era muito longe... E também virei à noite,
só porque podia também). Em certo momento eles decidiram que era hora de tentar
tomar o Brasil e se mudaram para São Paulo. As coisas não tendo dado certo,
meses depois voltaram para casa e a banda se desfez.
A banda
teria se desfeito de qualquer forma devido a problemas internos sobre os quais
meros fãs como eu nada podem adivinhar? Talvez. É possível que tenham dado
errado porque não tenham sido tão bons para a audiência nacional? Quem sabe
(duvido). Mas por que diabos tinham que se mudar para São Paulo? É essa sina de
retirância artística que mais me incomoda em toda a narrativa de ascensão e
queda do Aerocirco. E se você pergunta, não só a eles, mas a qualquer um, por
que tinham que se mudar, a resposta é óbvia: porque é óbvio. Não há outro caminho
prático. Viva e verás.
Em toda a
história editorial no Brasil, até mesmo de novos escritores que estão surgindo
que não são do meio independente, você tem dois elementos: a aposta
absolutamente vacilante de editoras, em que os escritores têm que pagar para
ter suas obras aceitas e publicadas, e, por outro lado, no caso das apostas
mais full-in, o contato mais pessoal e próximo. Foi o feliz acaso de conhecer o
editor na Bienal de São Paulo. Ou a pessoa certa na hora certa que indicou o
livro com a temática certa para a pessoa certa. A qualidade é necessária, e não
creio que esteja em falta; oh não, de modo algum. Mas há muita produção por aí.
Qualidade não é o único critério.
Disclaimers: isso não é recalque, nem
vitimismo, nem pretensão de vestir uma dose de pessimismo que eu considero
saudável com roupagem de "realismo", mas é preciso cair na real
quanto a publicar com editoras. Eu não tenho contatos, nem fundos que banquem a
crença de que vai haver retorno do investimento que é certos tipos de
publicação ofertados. É preciso começar por algum lugar e escolhi esse caminho.
Mandei o
manuscrito para algumas editoras sim, e é absolutamente e perfeitamente
compreensível que apostar em séries que não estão completas é perigosíssimo
(até Tolkien entregou O Senhor dos Anéis inteirinho). Mas um editor, que me ofereceu
um preço para a publicação, me disse: "Se você lançar esse livro da forma
errada, você está morto".
Não pude
resistir ao desafio.
L: Como você faz a divulgação de seu livro?
P: Bom, a
internet e a computação em geral favoreceram tanto a produção independente
quanto a distribuição independente, mas o marketing independente (especialmente
com o alcance limitado padrão [leia-se: não pago] que o Facebook, por exemplo,
oferece, e com o ruído absurdo que o Twitter gera) ainda continua complicado e,
pela quantidade da oferta, difícil de chegar e causar impacto. Mas há frutos,
especialmente se você criar uma rede de pessoas que realmente investem paixão
no que fazem - ou seja, nas redes sociais do livro, que podem acumular
seguidores e são uma ótima via padronizada de comunicação, você até oferece
algum valor, mas o real poder de trazer as pessoas para os livros está nos
blogs de literatura. O pessoal que realmente ama ler produz conteúdo para
pessoas que se importam com o que essas pessoas têm a dizer, então construir
esses relacionamentos é importante - mas, mais que estratégico, é legal para
caramba também :)
L: Como a internet tem ajudado na divulgação dos seus livros?
P: Ooops.
Acho que já respondi na pergunta acima! Mas vou aproveitar pra fazer um adendo
importante: a divulgação "física" existe também, e no meu caso em
especial se dá principalmente através de oficinas de literatura que tenho
realizado em escolas aqui da região metropolitana de Florianópolis. Eu trago os
livros para a sala de aula e, a partir dele trabalhamos temas como influências
e desigualdades sociais, identidade, comunidade. Tem sido uma experiência super
bacana - inclusive nas redes sociais do livro tem fotos das oficinas que fiz em
2013 e 2014! É uma experiência e muito legal e quero fazer cada vez mais!
O único
limitador, é claro, continua sendo a oferta dos livros físicos. Não tenho
fundos para uma tiragem confortável, então sempre dependo de malabarismos para
ter o livro à mão. E isso faz muita diferença, viu: há quem diga que o livro
digital oferecido de graça na internet vai fazer as pessoas desistirem de
comprar o livro físico. Isso não acontece em dois sentidos: em primeiro lugar é
difícil fazer o pessoal ler online, ou em aparelhos. Quem faz isso no Brasil
(ou pelo menos por aqui) ainda é vanguarda. Mas (e aqui vem o segundo fator)
mesmo quem o faz (e muitos blogs de divulgação o fazem - obrigado, galera!)
ainda prefere o físico. Então ter o livro, fazer o pessoal que gosta de ler
nessas escolas tocar nele, sentir o cheiro, enfim... O pessoal compra mesmo. Ou
pega emprestado, porque as escolas (mais um agradecimento aqui - isso está
parecendo programa da Xuxa já) têm sido super apoiadoras e comprado exemplares
para as bibliotecas quando fazemos as oficinas!
L: Você tem muito contato com os seus leitores? Já utilizou alguma ideia
sugerida por um leitor?
P: Contato
há sim, com certeza. E adoro! Como não gosto de usar ativamente o Facebook e
tenho um perfil mais por etiqueta e necessidade social, vou aceitando todo
mundo que me adiciona. O pessoal manda mensagens pela página da série também,
etc. Acho muito bom!
Quanto a
usar uma ideia sugerida por um leitor - bem, nunca tive uma ideia séria sugerida.
Nunca um leitor chegou para mim e falou "olha, a coisa x poderia acontecer,
seria bem legal", e pode ter certeza de que se fosse coerente e
interessante eu não teria nenhum escrúpulo de usar a sugestão. Por outro lado,
eu gosto (e me sinto estranho quanto a isso) do que Ricky Gervais disse uma
vez, bem direto e sem papas na língua, quanto à produção artística: ela é
ditatorial. Não tem nada de democrática. O que o artista quer fazer em sua obra
tem que ser de sua decisão e pronto. Não faria nada que não se encaixe na
história só porque foi uma sugestão de um leitor; isso é óbvio, e acho que um
escritor arriscaria muito se fizesse isso.
L: Ainda pretende publicar o livro através de uma grande editora?
P: Por que
não? :)
L: Tem outros livros já publicados?
*
Independentemente, M10. Fiz também parte de uma coletânea de contos em "Contos
discordianos" e lancei um manual de estratégia e customização do UNO
(chama-se "Guia Definitivo de Customização do Uno"; um pequeno hobby
bobo, e nada mais, mas acho muito divertido - e ele é bem completo, viu?)).
L: Tem outras histórias para publicar? Pode adiantar alguma novidade?
P: Outras
histórias dependerão muito dos caminhos que a vida leva - mas ideias tenho
muitas, todas loucas para sair da cabeça. Quanto às novidades da série
Controlados, bem, o Volume II está muito próximo da conclusão, e gostaria de
lembrar que membros do Universo Estendido terão acesso antecipado - e mais: já
podem ler uma versão preliminar do primeiro capítulo AGORA mesmo.
L: Seu livro está disponível em quais formatos?
P: Online
(num site próprio para sua leitura), PDF, ePub, e também nas plataformas Widbook
e Wattpad! E, é claro, em papel, produzido pela Bookess.
L: O que é ser escritor pra você?
P: Todo
artista conta histórias ou canaliza todo tipo de coisa humana através de uma
matéria-prima. Minha matéria-prima é a palavra escrita.
L: Como escritor o que mais te deixa feliz? E qual a parte mais difícil
dessa profissão?
P: O mais
difícil é sobreviver financeiramente. O que me deixa mais feliz é, puxa, ter
leitores! Ver o pessoal curtir a história e querer mais é sempre gratificante
:)
Nunca vou
esquecer de um momento em uma das oficinas literárias; creio que era uma turma
do nono ano do ensino fundamental. Tivemos toda uma exposição dos temas, uma
discussão bem à vontade sobre vários tópicos, uma introdução à trama do livro,
e então os alunos, antes de uma discussão geral e final, tinham que ler,
divididos e grupos, capítulos do livro - cada grupo ficaria com um capítulo.
Mas, é claro, alguns alunos terminaram antes que outros. E teve uma dupla de
alunas que, ao acabar o capítulo de seu grupo, saiu pedindo outros capítulos
(eram fotocópias) para alunos de outros grupos que já haviam terminado também
porque, nas palavras de uma delas, "eupreciso ler o próximo
capítulo!". Foi uma aprovação tão sincera, tão visceral, tão impossível de
falsificar - e não foi sequer dirigida para mim; foi um comentário dela para si
mesma em voz alta, num quase sussurro que eu poderia nem ter ouvido. Achei...
Mágico.
L: Quais as principais dificuldades no trabalho, uma vez que você não tem o
suporte de uma grande editora?
P: Os
trabalhos paralelos à escrita que consomem mais tempo do que eu gostaria... E
que numa editora seriam executados por toda uma equipe especializada.
L: Como percebe o atual cenário para a produção literária?
P: É
fantástico! Vivemos tempos incríveis, na verdade, porque o cenário todo sugere
uma espécie de estagnação histórica. É preciso criatividade para sair desse
marasmo; coragem para se aventurar a aprender (porque ainda há muita
ignorância; talvez sempre tenha havido e essa seja uma perspectiva tola por
parte de um integrante de uma geração nova, mas é o que se vê por aí) e também
há muitas posições a se tomar e a serem fortalecidas - é preciso tomar conta do
contra-poder imaginário, como diria David Graeber. Pelo menos por esse prisma
politizado que vejo certas formas de literatura, inseridas num campo
social, com um papel social, acho que há sim muito para ser
dito, muito para ser explorado, muito para ser inventado.
L: Como você vê o mercado editorial brasileiro atual?
P: Não posso
dizer que tenho conhecimento o bastante para fazer um comentário educado sobre
o assunto, infelizmente, mas acho que o Brasil segue um caminho bom, se apenas
lento demais para as aspirações sempre doces de leitores por todo o país, em
que há cada vez mais leitores. Isso só pode
ser bom, e como já ouvi de outros escritores por aí, o sucesso editorial de
alguns (contra os quais pode-se inclusive ter opiniões negativas em termos de
qualidade literária) é bom para todo mundo, escritores
e leitores!
L: Na sua opinião, existe algum preconceito, por parte do público e/ou
editoras com novos autores?
P: Acho que
não. Só o que eu vejo são as pessoas sempre bem empolgadas e receptivas. Acho
que com a literatura o endurecimento de opiniões quanto a escritores
individuais vem depois da leitura. Por exemplo, a rota
clássica do preconceito seria absorver da opinião pública dominante a ideia de
que autores iniciantes são ruins, adotar essa opinião, e passar a evitar
qualquer autor iniciante. Mas acho que isso não acontece; eu, que já ouvi
coisas péssimas sobre alguns "grandes nomes", não me furtaria a
lê-los (o que pensaria sobre eles depois da leitura seria outra coisa, e não
posso dizer que a opinião seria livre de impurezas relativas à pressão da
opinião pública). Até Crepúsculo eu li quando ele já era meio odiado e não acho
que foi tão terrível (o livro... E em alguns aspectos
ele é péssimo sim, mas não todos...).
Mas, e
sabe que isso é engraçado, esse é um preconceito que teria alguma
razão de existir, se apenas porque iniciantes... Cometem erros. Acontece.
Levando a coisa pro terreno do ad absurdum, você preferiria fazer
uma cirurgia com um perito na área médica do que com um estudante de medicina,
ou mesmo um estagiário. Mas no fundo, no fundo, não cola no campo artístico: se
a experiência e a prática vão moldando boas práticas e dotando o autor de uma outra
perspectiva, nem sempre essa nova visão é melhor: a inexperiência dá coragem
também. Ousadia. Combustível para fazer coisas incríveis, de tentar caminhos
que ainda não foram trilhados - e mais: energia, aliada ao tempo, para se
recuperar depois dos tombos e aprender com quaisquer erros - o
que leva, full circle, à tal visão nova que vai desabrochar. Acho
que em geral vale a pena dar chances a escritores iniciantes (é claro que eu
diria isso, não é mesmo?), e acho que os leitores sabem disso... Não tem trauma:
as decepções são esquecidas logo. As experiências incríveis ficam.
L: Que dicas daria para quem pensa em publicar um livro?
P: Analise
suas opções e siga seu coração. Mas o faça com suor, e o faça com dedicação. É
uma dica inútil, mas toda dica prática é insensível ao contexto de qualquer
forma. E prefiro ser sincero a fingir que conheço o caminho - estou descobrindo
o meu e não sei até onde ele leva. E nem sempre, infelizmente, a jornada vai
poder ser maior, melhor, mais importante que o destino.
Mas em
última instância isso não é um fato. É escolha; parte mais humana de uma
interpretação.
Agradeço ao Peterson pela entrevista. Para os que se interessarem, todas
as informações do livro podem ser encontradas no site oficial: seriecontrolados.com.br/
Boa Leitura!